NORTE DO BRASIL A PLENA FORÇA E VIGOR
Era outono de 1927. Ele perambulou várias vezes ao redor de um mesmo prédio em busca do pensamento perfeito; precisava agir rapidamente e sem erros.
O caminhante era pesquisador e escritor Napoleon Hill. Dotado de uma mente fora do comum e de um comportamento audacioso, gerou um material científico tão fabulosamente aplicável e ao mesmo tempo tão perturbador que atraiu inimigos. Antes de completar 30 anos, somando um sucesso extraordinário, Napoleon Hill viveu uma fase que exigiu dele a ausência temporária dos negócios para se preservar e garantir sua segurança.
O homem que mais influenciou o mundo dos negócios viveu seus dias de dúvidas, de medo, de inconstância da sua segurança pessoal e de sua família. Farto do calabouço onde se encontrava há alguns meses e determinado a aplicar o que pesquisou, tomou as rédeas da sua vida e a conduziu com a maestria que somente um autodidata emocional é capaz de fazer; organizou suas emoções e sustentou um diálogo tão seguro dando espaço para sua outra voz interior.
“Você foi descansar a mente em um lugar luxuoso, como um meio de desencorajar o retorno do medo. Mas ainda não está definitivamente morto aquele antigo ‘eu’: ele foi destronado. Este medo te seguirá aonde quer que você vá, esperando uma oportunidade favorável para tomar conta de você novamente. Ele somente pode tomar o controle por meio dos teus pensamentos. Lembre-se disso e mantenha as portas da sua mente hermeticamente fechadas contra todos os pensamentos que procuram limitá-lo de qualquer maneira; assim ficará salvo”
Um momento tão humano como este cria ressonância imediata em nossas emoções, despertadas por nossas memórias, onde a vida nos coloca seus desafios.
Disputas veladas, onde as perguntas não são concluídas e as respostas são imediatas, minando cada dia mais nossa autoconfiança e endereçando as dúvidas para um cérebro já confuso não tem ajudado muito a nos consolidar e ganharmos credibilidade com outros, tão pouco conosco mesmo.
Desde a revolução industrial, temos vivido a ideia de que o modelo liberal de sobrevivência chamado capitalismo nos traria igualdade, liberdade e possibilidade de evolução pessoal e profissional. Estava aberta a temporada definitiva do sucesso para todos. A teoria se comprovou, porém, na prática apresentou-se muito diferente.
De lá para cá, nenhuma outra virtude tem sido tão ovacionada quanto a autoconfiança. Talvez, perca apenas para a busca da fé.
Sobra em mim a sensação de uma certa rivalidade da primeira com a segunda, como se a autoconfiança fosse inerente ao poder da fé, enquanto a fé, fio nutrido da luminescência divina vive no complexo eixo humano aguardando sua vez.
Uma disputa que ao contrário de nos fortalecer nos torna ignorantes ao poder que a segunda tem sobre a primeira, assim tornamo-nos presas fáceis de nós mesmo. Ficamos encarcerados em reações muito mais do que em ações seguras e precisas.
Quando autoconfiante, vivemos num trampolim, saltitantes – e muitas vezes exibicionistas – e náufragos quando as situações não emergem no tempo e demanda que desejamos, apesar de nossas enérgicas braçadas. Nestes momentos, normalmente já sem ar nos pulmões, buscamos a fé como corda salvadora, sem a certeza de que nos sustentaremos, ampliando ainda mais o diálogo neurótico cujas perguntas tomam tanto espaço que não sobra brecha para as respostas, fazendo com que fiquemos estagnados, rodopiando em busca de um recomeço.
Aprender a manter a liberdade de controlar e a superar situações e pessoas negativas é de tamanho importância nas emoções humanas que muitas vezes nos parece impossível conseguir.
Viver nessa revolução humano-tecnológica, onde tudo experimentado e aprendido hoje pode estar em desuso amanhã, a certeza de estar vivendo essa aventura prazerosa em um universo recheado de inovações a cada segundo cria uma expectativa de vida futura cada dia menos linear, e cada dia mais cíclico. Repetindo pensamentos e ações, já que as emoções seguem as mesmas. Onde a regra clara é estar pronto para as tomadas de decisões imediatas, esperando o menor risco de erros. Não muito tempo atrás, uma decisão tomada nas empresas, sociedades ou nas famílias acontecia quando alguém dava ordem e todo mundo seguia; hoje o cenário é quando alguém dá ordem, todos negociam com todos, ou no mínimo opinam, fortalecendo ou enfraquecendo o lado extremo.
Contar com a complacência do outro nem sempre é possível, e desistir não é uma alternativa para os que buscam obter a autoconfiança. Ou temos controle sobre a situação ou nos tornamos complacentes, cedendo ao domínio do lado mais forte.
Autoconfiança vem de dentro para fora, ‘auto’, e com um fio que a tece, ‘fiança’. Ela exige delicadeza, porém firmeza de propósito. Quando temos um propósito bem definido, reconhecemos o endereço final da jornada, alterando o entendimento dos ‘porquês’.
Essa estrutura interna, quando sólida, interna favorece um planejamento da jornada, nos munindo enquanto viajantes com os utensílios ideais para a caminhada, restando-nos apenas a observação das reações emocionais diante das adversidades que, doravante surgirão.
Criamos assim um mecanismo gerador de firmeza do ponteiro da nossa bússola interna, chamada de Autocontrole.
Autoconfiança com fé resulta em autocontrole. O autocontrole nos nutre de poder, mas o poder exige esforço. Poder sem autocontrole é só passatempo com final humilhante.
Em seu último livro, ‘Como Um Rolling Stone’ Jamil Albuquerque (em parceria com Joilson Albuquerque) exemplifica para onde a falta de autoconfiança pode nos levar, quando diz que “os que não controlam suas emoções dão razão ao vaticínio que diz que o arco do tolo dispara depressa.”
Investir numa mudança de crenças e decidir fazer um gerenciamento das próprias emoções como se as estivesse planilhando, pode gerar um maior controle das próprias reações facilitando nossa ida de encontro nosso propósito.
Enfrentar os pedregulhos do caminho, dialogando conosco mesmo, sempre e quando pudermos, nos permite afastar os recorrentes pensamentos tão ardilosos da insegurança e alcançamos o apoio tão necessário.
Entre uma subida e uma descida no vale das surpresas, cantarolar e dançar são um ótimo estimulante para o corpo e a mente.
Afinal, não chegamos ao topo arrastando a nós mesmos, mas nos incentivando e confraternizando com nossos avanços.
É para o topo que olha, pois é para lá que estamos indo. Te encontro lá!
Cleiva Coelho
Diretora Franqueada
Norte do Brasil