A DOR E O PRAZER

Sou maratonista amador, e por muitas vezes, em meus treinos de corrida de rua, antes de amanhecer – mesmo com chuva, frio ou vento – passo por algum atleta em treinamento e observo sua expressão: tem feições de prazer; está sorrindo, avesso ao rigor do clima ou a hora do dia.  

As substâncias secretadas na corrente sanguínea pelo desempenho do hábito o desconectam da dor que essas duras condições produziriam nas pessoas que não tem o hábito da corrida. 

Quem não tem a prática habitual de acordar 5 horas pra correr pensa que a experiência do atleta é de todo dolorosa. Porém, a experiência dolorosa dura apenas até iniciar a produção das substâncias de prazer. 

Nosso cérebro – esta sublime criação divina – tem um sistema de recompensa para quem ousa romper a inércia. Talvez daí advenha a frase de Goethe, “comece, e o poder te será dado”. 

Quanto mais tempo eu permaneço na construção do hábito, menos tempo dura o desconforto da arrancada e mais intensa a sensação de prazer na execução do processo habitual.